Após ter assistido os vídeos acima, fiquei refletindo sobre a complexidade do trabalho com alunos surdocegos. Fiquei imaginando como eu trabalharia, caso recebesse uma criança surdocega na Sala de Recursos.
A criança surdocega é singular, assim como qualquer outra criança. Acho que deste pensamento partiria meu trabalho. Faria uma investigação minuciosa; que incluiria anmenese, visitas a residência do aluno, análise dos resultados de exames, estudo de laudos audiológicos e oftalmológicos, observação do comportamento em ambientes diferenciados e testagens. Tentar descobrir, como as crianças SC interagem com o meio, é primordial. Isso porque, mesmo com enorme dificuldade de comunicação, as crianças SC estão inseridas em uma cultura, em uma sociedade e estabelecem, mesmo que precariamente, relações com ele, exibindo comportamentos. Qualquer comportamento tem que ser visto como tentativa de comunicação e pode servir como objeto de conhecimento. A investigação torna possível descobrir como é mediada a exploração do ambiente e dos objetos e que conceitos foram construídos pelas crianças SC. Além disso, possibilita saber, se a linguagem, tem valor simbólico e se foi construído a consciência do papel da comunicação no ambiente.
Após investigações e descobertas, eu, em conjunto com supervisão, pais, professores, faríamos as adaptações de acesso ao currículo e curriculares necessárias. Como plano de ação, escolheria a abordagem Co-ativa de Van Dijk para tentar vencer o isolamento e possibilitar à criança deslocar-se do nível de dependência para o de independência em suas ações cotidianas. Van Dijk, identificou seis fases no desenvolvimento da linguagem simbólica do surdocego: Nutrição, ressonância, movimento co-ativo, referência não representativa, imitação e gesto natural. Estas fases constituem-se em um processo dinâmico de incorporação de estímulos sociais, podendo ser seqüenciais ou cumulativas. Na fase da nutrição, teríamos que tentar estabelecer um vínculo acolhedor com a criança. O mundo para ela é algo perigoso, portanto precisa sentir-se segura para começar suas descobertas. A ressonância consistiria na realização de atividades conjuntas, para que haja a percepção de que estamos agindo juntas. O objetivo é despertar no outro a consciência dos efeitos de seus movimentos no corpo do mediador. No movimento co-ativo, temos que orientar a mão da criança, estabelecendo contato com o objeto do conhecimento. O objetivo é ampliar a ação motora do SC no ambiente. Durante a fase da referência não representativa, introduzimos o uso do objeto de referência como um recurso mediador da interação. A apresentação do objeto inicialmente precisa ser contextual; depois se promove sua descontextualização, passando a utilizá-lo como uma referência que antecipa a atividade programada. Quando a criança chega na fase da imitação, ou seja, ela representa a continuação do movimento co-ativo de forma mais rica. A criança começa a re-criar os elementos simbólicos assimilados a fim de conseguir a satisfação de suas necessidades. O gesto natural é a última fase. Nela, o surdocego começará a criar seus próprios gestos para representar algo que deseja conquistar. Transforma os movimentos corporais em instrumento de comunicação.
É claro que para desenvolvimento desta abordagem na escola, é necessário um planejamento educacional cuidadoso. O ambiente deverá estar organizado de uma maneira que ajude o surdocego a memorizar a disposição dos materiais permanentes, facilitando sua orientação e mobilidade no espaço da sala de aula. Deve-se estabelecer uma rotina, com a finalidade de viabilizar melhores condições para a criança se orientar nas atividades do dia, podendo futuramente antecipar as atividades mediante o objeto de referência da mesma.
Acho que o trabalho com pessoas surdocegas exige muita conhecimento, observação e paciência. O retorno deve custar a aparecer, mas quando aparece, deve gerar nas pessoas envolvidas, algo indescritível, maravilhoso!